terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Caju é Real

Por Alexandre dos Reis


Quando Dom João VI,  acometido de uma infecção causada por um carrapato, buscou cuidados médicos, lhe foi recomendado que tomasse banhos de mar, que seu mal desapareceria. Diante de um vasto litoral, foi escolhido o mar do Caju, mais precisamente a praia do Caju, onde havia a construção de um pequeno cais, e também uma banheira furada, onde pudesse banhar-se sem a interferência dos caranguejos, dos quais tinha verdadeiro pavor. Se pudermos dizer que a frase “terra a vista” foi um marco do achamento de nossas terras, “mar a vista” poderá ser uma metáfora usada para um importante marco da cidade do Rio de Janeiro: a descoberta do balneário do Caju, que iria colocar esse pedaço carioca nas badalações da elite, tornando-se essa praia o primeiro balneário brasileiro.

 A presença da realeza no Caju tornou o espaço territorial comum a toda elite da época que, para acompanhar o poder, comprou terras por esses lados. Ricos comerciantes, latifundiários e visionários se instalaram nas terras que agora tinham ligação direta com o venerado monarca. Tornaram o Caju em terras reais, ou melhor, a quinta do Caju era um pedaço especial do reino.
Com tanta honraria e badalação, é claro que essa terra logo despertaria interesses diversos: uma imensa fábrica de tecidos seria instalada no Caju no final do século XIX. Até uma rampa para a parada de hidraviões seria construída nessa área.

 A ocupação desordenada também seria uma realidade na área do Caju. A presença dos cemitérios, da fábrica de tecidos, da casa de amparo a velhice, do hospital de isolamento - o primeiro nessa especialidade na cidade do Rio de Janeiro, do arsenal de Guerra e a construção da Avenida Brasil - que, cortando o bairro de São Cristóvão, faz nascer o bairro do Caju na década de 40 do século XX, trazem consigo a imigração em massa para este recanto.
E como uma afronta aos governos que se instalaram no poder do Rio de Janeiro, desde então o Caju resiste ao avanço feroz das grandes empresas que, para abrir caminhos ao porto do Rio, destroçam histórias e vidas. A degradação deste lugar é visível em todos os lados para onde se olhe: podemos ver poeira, lixo, violência, falta de escolas, falta de áreas de lazer, acesso a saúde, acesso a dignidade e, por fim, detém um dos piores IDH do município. É perceptível que a História do Caju deixou, a muito, de ser da realeza para ser o da realidade, fazendo-se necessário um grito: GOVERNANTES, O CAJU É REAL.

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